A computação em nuvem trouxe grandes transformações tecnológicas e na rotina de empresas e pessoas, ao permitir que soluções e serviços sejam pagos na proporção em que são consumidos. Exemplo disso é o mercado de Software as a Service, em que soluções diversas podem ser acessadas de qualquer lugar por meio de qualquer dispositivo com conexão à Internet, possibilitando às organizações e pessoas consumirem estes serviços de acordo com a sua necessidade. E o principal exemplo disto é o Microsoft Office 365, solução na qual se acessa os aplicativos do Office pela Internet por uma taxa de assinatura.
Assim como a computação em nuvem e o SaaS trouxeram importantes benefícios ao mercado de softwares, um novo modelo similar, baseado no uso da tecnologia, desponta agora na área logística: o de serviços de Logistic as a Service (LaaS). Já conhecido em mercados como o norte-americano, mas ainda não difundido no Brasil, o conceito de LaaS traz, para o universo da logística, benefícios semelhantes aos observados no mercado de softwares: mais flexibilidade, agilidade, eficiência, segurança e redução de custos, além de uma melhor experiência ao cliente.
No modelo de LaaS, a gestão da logística é realizada por meio de uma plataforma baseada em nuvem ou acesso remoto, contando inclusive com o apoio de especialistas em logística remota, e pode ser comprada no sistema de assinatura contínua, sob medida para a necessidade de cada organização.
Em nossa visão, o uso do LaaS vai bem além, permitindo utilizar as novas tecnologias, como Inteligência artificial e Machine Learning, para realizar o desenho da cadeia de suprimentos do cliente, gerando dados que permitirão construir modelos preditivos, e irão garantir mais eficiência sob o ponto de vista de prazo e custo. Desenhar cenários e definir as melhores alternativas para o transporte e armazenagem dos produtos, a partir de insights gerados por dados, é um dos benefícios do modelo de LaaS, possibilitando às companhias saírem de um modelo reativo, baseado apenas na demanda existente, para um modelo preditivo.
Inserida na categoria de serviços de transporte gerenciado, a LaaS vem sendo utilizada por algumas empresas para gerenciar toda a sua rede de transporte, incluindo operações de frete, instalações de produção, armazéns e distribuição no varejo.
Este modelo vem sendo adotado, em outros países, para se implantar soluções sem a necessidade de se arcar com todo o custo de uma compra exclusiva e individual e da infraestrutura necessária para isso – e aqui podemos citar, como exemplo, a implantação de um sistema de gerenciamento de transporte (TMS). Este sistema baseado em nuvem permite centralizar, em uma única plataforma, ações como o fluxo de pedidos, estoque, estocagem e remessa, além de gerar análises do desempenho com o apoio da IA.
Sua utilização é especialmente útil para empresas que não querem ou não podem investir em um sistema próprio, ou que não possuem experiência para gerenciar e manter o sistema. Neste caso, a manutenção e gerenciamento também podem ser terceirizadas no modelo de LaaS. A tecnologia permite olhar a cadeia de suprimentos do cliente para se avaliar quais aspectos podem ser deixados a cargo do operador de LaaS, o que ele pode deixar de fazer de Capex utilizando o Machine Learning.
Este tipo de solução pode ser especialmente atraente para empresas menores, por exemplo, que não se sentem prontas ou em condições de investir em um sistema de gerenciamento de transporte local. Ou organizações que não possuem experiência para configurar, personalizar e manter um TMS, e que podem se beneficiar significativamente de uma solução baseada em nuvem.
Em vez de contratar uma equipe para desenvolver e manter o sistema, é possível contar com a equipe do provedor de software para auxiliar nessas operações, pagando pela personalização de acordo com a necessidade. Esses especialistas analisarão os painéis e os principais indicadores de desempenho (KPIs) gerados pelo TMS, e, a partir desses dados, farão recomendações para simplificar as operações, descobrir eficiências e oferecer uma melhor experiência ao cliente.
No modelo LaaS, as empresas asseguram um patamar mais elevado em sua segurança cibernética e também podem ter acesso a uma grande disponibilidade de espaços de armazenagem, para obter maior eficiência operacional, reduzir custos e otimizar a experiência do cliente.
Desenvolver e oferecer uma solução de Logistic as a Service requer, por outro lado, tanto plataformas digitais sofisticadas, a exemplo do que empresas como a Flexport vêm fazendo no mercado norte-americano, quanto grande conhecimento sobre as operações logísticas, o que tem levado grandes operadoras logísticas dos EUA a atuarem com LaaS nos EUA, apoiadas em startups.
Trata-se de um modelo novo na área de logística, que se mostra especialmente interessante no atendimento às demandas do e-commerce – setor que movimentou R$ 2,7 bilhões em 2022 no mercado brasileiro -, além do varejo tradicional, distribuidores e shoppings centers, entre outros setores. Não resta dúvida de que a modelagem da logística das companhias dos mais diversos portes passará, no futuro, pelo este modelo, que tenderá a crescer e se consolidar tão rapidamente quanto ocorreu no mercado de software.