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Ter profissionais capacitados ainda é uma das chaves de sucesso na logística

Paulo Roberto Roberto Guedes, sócio-diretor da Ripran Consultoria e conselheiro da Abol
Por Paulo Roberto Guedes em 7 de janeiro de 2022 às 17h00 (atualizado às 17h29)
Paulo Roberto Guedes

A pandemia da covid-19, como é sabido por todos, além da tristeza e da dor ocasionadas pela perda de milhões de vidas, ‘desorganizou’ e ‘desestruturou’ substancial e profundamente, todas as atividades humanas, social, econômica e política.

Não há qualquer dúvida que o inicial (e ainda) desconhecimento a respeito da pandemia, o redirecionamento de grande parte das políticas públicas objetivando evitar males maiores ou para atenuar o sofrimento dos mais carentes, os esforços da ciência e da tecnologia, muito mais voltados à busca de uma “vacina” ou de um “remédio” que diminuíssem a transmissão e demais impactos negativos gerados pela pandemia, o esgotamento das redes de saúde, públicas e privadas, a suspensão de parte importante das atividades econômicas, principalmente aquelas que geravam aglomeração de pessoas, o distanciamento social, a manutenção de grande parte dos profissionais trabalhando em casa, a instalação de novos procedimentos para proteger a saúde daqueles que precisavam estar presentes na empresa, o rápido direcionamento da tecnologia para melhoria das atividades de comunicação e monitoramento etc. etc., tiveram impactos importantes, nas empresas, nas sociedades e nas nações. Pode-se dizer que a pandemia “bagunçou” tudo.

Ainda em pleno ‘auge’ da pandemia, em maio de 2020, a McKinsey entrevistou diversos profissionais da área logística, principalmente aqueles diretamente responsáveis pelo “supply chain”, em diversas partes do mundo e dos mais diversos setores produtivos, para avaliar o que seria necessário fazer, de forma quase que imediata, para que as atividades econômicas, de uma forma geral, não entrassem em colapso, uma vez que se constatava, de forma clara e concreta, a “desestruturação” de quase todas as cadeias de abastecimento.

Considerando os diversos obstáculos criados pela pandemia, mais a queda da demanda por bens econômicos e serviços e a diminuição significativa e generalizada das atividades econômicas, a maioria dos entrevistados respondeu que era essencial tomar providências simplesmente para manter suas empresas em funcionamento.

Também indicou a pesquisa, que além das providências de “curto-prazo”, necessárias para a sobrevivência empresarial, muitos daqueles profissionais se anteciparam e passaram a discutir “mudanças estratégicas na configuração e na operação de suas cadeias de suprimentos. Como ilustração, 93% dos entrevistados disseram que tinham como prioridade, “tornar suas cadeias de suprimentos muito mais flexíveis, ágeis e resilientes”.

Agora, um ano depois, especificamente no segundo trimestre de 2021, a McKinsey repetiu a pesquisa (1), acrescentando uma solicitação para que os entrevistados “descrevessem as etapas que tomaram para fortalecer suas cadeias de abastecimento”, e “como essas mudanças, se corretamente implementadas”, ainda podem contribuir para que “suas cadeias de abastecimento evoluam ainda mais”.

As principais respostas obtidas agora, comparadas com aquelas de 2020, podem ser resumidas da seguinte forma:

1)    Aumentar estoques é mais rápido e tem custos menores do que construir fábricas e/ou desenvolver novos fornecedores (2),

2)    Gestão de risco, com mais amplitude e sistemas de monitoramento proativos são fundamentais (3),

3)    Maior organização e assunção efetiva das atividades de planejamento, principalmente com o uso da digitalização, são imprescindíveis (4),

4)    Capacitação profissional e desenvolvimento de “talentos”, notadamente na área digital, devem se tornar em atividades permanentes nas empresas (5).

Complementarmente, como também indicou a pesquisa, ficou claro que ainda hoje “as cadeias de abastecimento permanecem vulneráveis ​​a choques e interrupções, com muitos setores atualmente lutando para superar a escassez do lado da oferta e as restrições da capacidade logística”. Constatou também, que simultaneamente à queda do nível de “investimentos em tecnologias digitais voltadas à cadeia de suprimentos”, houve uma significativa falta de profissionais capacitados.

Pois é, novos obstáculos à frente, considerando que as cadeias de produção e de abastecimento atuais, por serem muito mais complexas e exigirem um conjunto de ações integradas, coordenadas, com desenhos e soluções personalizadas e adaptadas às novas realidades, tiveram suas exposições a riscos aumentadas; motivos mais do que suficientes para se exigir, além de resiliência, investimentos significativos em tecnologia digital e capacitação.

O que vem acontecendo no mundo nos últimos anos, agora enfatizado e realçado pela pandemia, tem influenciado fortemente o profissional de logística, posto que ele exerce uma atividade de altíssima relevância no mundo empresarial e dos negócios. Queira-se ou não, a logística, já há algum tempo, deixou de ser uma atividade exclusivamente operacional e se transformou em atividade estratégica, colocando-a como parte integrante dos negócios empresariais.

Conclui-se, portanto, ser necessário que os profissionais de logística, como de resto todos os demais, encarem a realidade e os problemas como de fato eles são e “que realizar observações, agora com maior frequência e profundidade, que permitam acompanhar a velocidade das mudanças, ter instrumentos de avaliação de desempenho que levem em conta cenários cada vez mais dinâmicos e movimentar-se com rapidez, para adotar medidas urgentes e que se adaptem aos novos cenários, transformaram-se em atividades profissionais imprescindíveis” (6).

Redundante dizer, mas vale à pena reprisar: o nível de exposição a riscos dependerá diretamente da eficácia dos sistemas de monitoramento e de avaliação e dos planos de contingência existentes. Mas para que isso se realize com segurança e rapidez, alguns instrumentos são indispensáveis: digitalização, inovação e desenvolvimento da tecnologia de informação são alguns exemplos. Somente com um correto entendimento dos níveis de vulnerabilidade e de riscos a que as empresas estão expostas será possível elaborar corretas estratégias de resiliência.

É imperativo, consequentemente, que quem trabalha com logística compreenda rapidamente as novas exigências do mercado e o novo momento da sociedade (7), pois as empresas, sempre buscando adaptação e sobrevivência, sabem que a competição é cada vez maior e precisarão melhorar o atendimento a clientes e às suas respectivas cadeias de abastecimento. Essencial, portanto, estar totalmente conectado com os avanços da tecnologia digital, ter um corpo de funcionários capaz e altamente qualificado.

(1)    Knut Alicke, sócio do escritório McKinsey em Stuttgart, Ed Barriball, sócio do escritório de Washington/DC, e Vera Trautwein, especialista do escritório de Zurique (“Como COVID-19 está remodelando as cadeias de abastecimento” – 23.11.21);

(2)    Ainda de acordo com a pesquisa da McKinsey: em 2020 cerca de 75% dos entrevistados “planejavam melhorar a resiliência por meio de mudanças físicas em toda a cadeia de suprimentos”. Agora 92% responderam que tinham feito isso. Na pesquisa anterior, a grande maioria, para aumentar a resiliência, combinou duas importantes providências: ao mesmo tempo em que buscariam aumentar os estoques de alguns produtos e insumos, também iriam procurar – ou mesmo ‘desenvolver’ - novas redes de abastecimento e produção. Como ficou constatado no curto prazo, aumentar estoques teve resultados muito mais imediatos. Dependendo do setor, os resultados obtidos foram muito diferentes. Regionalização das cadeias de suprimentos, mudança da produção para locais mais próximos de seus mercados, busca de fornecedores mais adequados e/ou adaptados às novas circunstâncias ou com maior capacidade de viabilização de recursos, inclusive financeiros etc. foram providências adotadas em graus e proporções diferentes. De qualquer forma, apontou a pesquisa, “a regionalização continuou sendo prioridade para 90% dos entrevistados e deverá continuar sendo nos “próximos três anos.

(3)    Pesquisa McKinsey: “95% dos entrevistados afirmam ter processos formais de gerenciamento de risco da cadeia de suprimentos, enquanto outros 59% afirmam ter adotado novas práticas de gerenciamento de risco da cadeia de suprimentos nos últimos 12 meses. Pequena minoria (4%) criou uma nova função de gerenciamento de risco do zero”. Maioria afirma ter fortalecido os recursos existentes.

(4)    McKinsey: “de maneira geral, os entrevistados acreditam que administraram bem essa transição e 58% relataram bom desempenho no planejamento da cadeia de suprimentos no ano passado. Os 42% restantes dos entrevistados disseram que o trabalho remoto levou a atrasos na tomada de decisões da cadeia de suprimentos”. Além disso, “o sucesso do planejamento de uma organização estava fortemente ligado ao uso de ferramentas digitais modernas, especialmente análises avançadas. Em comparação com organizações que relataram problemas, as empresas de sucesso foram 2,5 vezes mais propensas a relatar que tinham recursos de análise avançada preexistentes. Das empresas que tiveram dificuldades para gerenciar suas cadeias de suprimentos durante a crise, 71% dizem que estão aumentando o uso de análises avançadas”.

(5)    McKinsey: “o talento continua sendo uma grande barreira para a digitalização acelerada e a lacuna de habilidades está aumentando. Em 2020 apenas 10% das empresas disseram ter talentos digitais internos suficientes e agora, em 2021, apenas 1%”. Requalificação (55%) e redistribuição (30%) da equipe existente, contratação de novos talentos (52%) e contratação de pessoal especializado para serviços específicos (21%) são as providências mais escolhidas para resolver o impasse.

(6)    O artigo “O protagonismo da logística em épocas de crises” foi publicado no Portal da Tecnologística dia 05.07.21.

(7)    Como escrevi em artigo específico (“A logística e os operadores logísticos sob o ponto de vista estratégico”), publicado no Portal da Tecnologística, dia 26.08.21, “o mundo empresarial, diante da pandemia e da consequente crise econômica instalada, ocupou-se, inicialmente, quase que única e exclusivamente com sua sobrevivência. Mas sabe que chegou o momento de “repensar seus negócios”, de forma profunda e que incorpore os novos princípios empresariais já aceitos, tais como o ESG (“Enviromment, Social e Governance”). Utilização de energia renovável, inclusão social, combate ao racismo e à discriminação e governança corporativa. Vale também para os operadores logísticos. Não resta outro caminho”.

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