A redução gradativa de empregos em todas as áreas de atividade humana agrava-se no mundo inteiro, tornando-se uma das maiores preocupações da sociedade moderna. Contribuem para tanto a urbanização acelerada, a mecanização de lavouras, a robotização de indústrias e serviços, e mais recentemente a introdução de tecnologias 4.0, que certamente acelerarão ainda mais essa tendência.
Embora a tecnologia de (IA) inteligência artificial já esteja sendo utilizada em serviços, softwares, veículos autônomos etc., as tecnologias de IoT (Internet das coisas), tecnologia de impressão 3D, robótica avançada, e outras, avançam mais lentamente, e, de acordo com especialistas, têm alto potencial de redução de empregos.
Esta redução de empregos é visível em nosso dia a dia, mas a título de exemplo, em 1990 as três maiores empresas da cidade de Detroit nos Estados Unidos tinham 1,2 milhões de empregados e faturamento de US$ 250 Bilhões, enquanto em 2014 as três maiores empresas do Vale do Silício com faturamento similar de U$$ 247 Bilhões, já apresentava significativa redução de mão de obra, tendo somente 137 mil empregados, ou seja 10 vezes menos (Schwab, Klaus apud Manyika, James e Chui,Michael). Mesmo considerando as diferenças entre as atividades o exemplo deixa claro a tendencia de redução de empregos principalmente após os anos 90.
A indústria 4.0 e os sistemas de compartilhamento de serviços, poderão oferecer novas atividades e profissões, mas dificilmente compensarão a redução de empregos correspondente. Além disso, exigirão especialistas com novas habilidade e formação específica, demandando certo tempo de realização. Durante esse tempo haverá o que se convenciona chamar de “hiato de empregabilidade”, que deveria estar entre as principais preocupações da sociedade, governo e empresas.
Embalagens de diversos materiais, plásticos em geral, eletroeletrônicos, veículos, materiais têxteis, químicos, entulhos de construção, móveis, papeis, metais, madeiras, óleos lubrificantes e de cozimento, entre outros, são descartados na natureza com baixo nível de reaproveitamento. Estima-se que mais de 1,4 bilhões de toneladas por ano de resíduos destes produtos e materiais são descartados no mundo.
Considerando que, até os dias de hoje, somente uma mínima fração desta crescente quantidade de resíduos descartados é reaproveitada adequadamente, percebe-se que existe um enorme potencial para as atividades relacionadas. Da mesma forma abrem-se grandes oportunidades de empregos nessas diversas atividades, em todos os níveis hierárquicos e em empreendedorismo, na variedade de áreas direta e indiretamente relacionadas com a Logística Reversa de Pós-Consumo.
No Brasil, de acordo a Abrelpe, no ano de 2018 foram coletados 79 milhões de toneladas de resíduos sólidos e somente 3% foram reciclados, estimando-se que cerca de 74 milhões de toneladas não são coletadas e são descartadas indevidamente em terrenos baldios, riachos, rios, lixões etc. Ainda no Brasil, o descarte anual de equipamentos do setor de eletroeletrônicos é de cerca de 1,5 milhões de toneladas, sendo menos de 5% reaproveitados.
A Logística Reversa de pós-consumo tem como objetivo planejar e operacionalizar o fluxo de retorno de materiais e produtos usados, na condição de resíduos, procedentes do mercado ou do meio ambiente, para a sua revalorização através de reaproveitamentos diversos, reintegrando-os aos ciclos de negócios ou ciclos de industrialização (Leite,2003,2009,2017).
Este potencial de empregabilidade pode ser concretizado nos diversos canais reversos: no reuso de bens duráveis, nas atividades de reparos e consertos, no desmanche ou manufatura reversa, na remanufatura, na reciclagem dos materiais constituintes e na destinação final dos rejeitos. Oferece ainda excelentes oportunidades na área de prestadores de serviços especializados em resíduos sólidos e dos produtos resultantes de seu reaproveitamento, tais como, sistemas de coletas, transportes e armazenagem, sistemas de informação. Não menos importante, na área de empreendedorismo e consultorias as oportunidades são relevantes.
Esta perspectiva de empregabilidade tem sido potencializada no Brasil, embora com uma velocidade muito aquém da necessária, pela Política Nacional de Resíduos Sólidos desde 2010, e mais recentemente pelo crescimento e aplicação das ideias de sustentabilidade de empresas ESG (Environement, Social and Governance, consideradas como complementares àquelas da Economia Circular e Logística Reversa de Pós- Consumo.
Para o avanço e efetivação do potencial de reaproveitamentos de resíduos sólidos e consequente geração de empregos será necessário:
Sendo pouco factível um consumo em níveis menores, seja pelos hábitos enraizados, seja pelo seu impacto no agravamento da empregabilidade mundial, é necessário desenvolver ações mais efetivas do que aquelas que temos assistido até então, para que esse enorme potencial de empregabilidade se realize.
O Brasil precisa de políticas claras e facilitadoras para o desenvolvimento rápido destas áreas, recuperando um colossal atraso e reduzindo o impacto de um dos maiores problemas que a sociedade moderna enfrenta atualmente.