Este ano o governo federal anunciou um grande projeto em ferrovias que prevê um investimento de pelo menos 30 bi nos próximos 5 anos através de parcerias como a iniciativa privada e grandes investimentos. Além desse, outros projetos de construção e renovação de ferrovias estão em andamento. O setor ferroviário representa hoje 15% da matriz de transporte e o objetivo é ter cerca de 30% no prazo de 10 anos.
Sem dúvida esses investimentos serão importantes para logística e o país. Mas para entender porque o modal ferroviário avançou tão pouco em comparação aos outros países é necessário voltar no tempo.
Até 1920 as ferrovias eram o principal meio de transporte no país, isso começou a mudar com o presidente Washington Luís que priorizou a produção das rodovias para poder estimular as montadoras de automóveis e os governos seguintes seguiram o mesmo caminho.
O presidente Juscelino Kubitschek também priorizou as rodovias na década de 1950. “Em seis meses, você faz 500 quilômetros de estradas de terra”. Se o plano era fazer o Brasil crescer 50 anos em 5 a construção lenta das ferrovias tornaria isso impossível. E assim, as rodovias se tornaram a marca registrada de seu governo.
E como estão as ferrovias hoje? Temos uma linha ferroviária de 28 mil quilômetros, menos do que os EUA tinham em 1860, hoje eles têm 226 mil km de ferrovias. Detalhe, 18 mil km da malha ferroviária brasileira se encontra abandonada, se autodestruindo por falta de manutenção.
Outro problema foi a falta de padronização das bitolas ferroviárias que nada mais é que a largura determinada pela distância entre as faces interiores de dois trilhos. Para criar uma rede unificada é necessário padronizar a malha numa única bitola. Diferente dos outros países o Brasil teve a “brilhante ideia” das bitolas múltiplas. Para transformar hoje toda a malha nacional para bitola de 1,600m (bitola larga) os gastos seriam altíssimos e no caso da bitola internacional exorbitantes. Era mais fácil continuar priorizando as rodovias.
O Brasil é o único país no mundo onde se predomina o modal rodoviário, nenhum outro país escolheu ter esse sistema como principal.
Conforme imagem abaixo o transporte de cargas no Brasil é responsável por movimentar 65% de tudo que é produzido no país e embora seja fundamental é um dos mais caros e ineficientes do mundo.
De acordo com pesquisa feita pelo Fórum Econômico Mundial (www.weforum.org/) estamos no ranking 109 em qualidade das rodovias. As rodovias esburacadas somadas as frotas obsoletas aumentam o risco de acidentes de transito. Em 2018 o país quase parou devido a uma greve do setor, tamanha a dependência neste modal.
E por que investir em ferrovias? Voltar a fazer ferrovias vai ser fundamental para logística e transformador para o país. As vantagens do modal ferroviário são muitas.
Só para se dar uma ideia, os caminhões gastam uma média de 7x mais combustível que o trem.
Teremos uma melhora no escoamento dos grãos, principalmente milho e soja. Diminuição do preço do frete e aumento da competitividade no mercado internacional. O produto vai chegar mais barato no porto e o aumento de oferta ferroviária vai reduzir tarifas.
Um dos projetos, o da estrada de ferro Ferrogrão prevê uma economia de 19,2 bilhões em fretes por ano pagos pelos produtores e geração de pelo menos 14 mil empregos diretos.
Como são projetos de longo prazo espera-se que haja a continuidade deles no próximo governo, assim como foi feito com as rodovias no passado. Tomara.